Envelhecer é um mau hábito que um homem ocupado não tem tempo para adquirir.
(André Maurois)
Pois é! Hoje em dia, por uma questão meramente comercial, rotulamos cada momento de nossas vidas. Envelhecer, por exemplo! Os romanos da antiguidade clássica valorizavam a velhice, honrando-a com o princípio no qual o respeito devido à experiência lhe atribuía um lugar na fila da frente dos Conselhos de Estado. Os chineses levam isso ao extremo até os dias atuais. Na sua gerontocracia, ninguém com menos de sessenta e cinco anos é considerado adequado ao exercício do poder. Nos tempos recentes, a moda tem sido os jovens assumirem um papel primordial, como se fossem a única forma importante de ser humano. A principal razão para tal é os publicitários saberem que esses jovens têm convicções frágeis e estão dispostos a consumir sem nenhuma análise futura. É uma coisa puramente comercial. As chamadas "meia-idade" e "3ª idade" não existem. Trata-se apenas de períodos da vida em que – supostamente - o estado de espírito e as medidas de cintura trocam de lugar. Isso é uma questão de atitude pessoal que depende só de vontade própria. Existem pessoas que já nascem velhas e outras que morrem jovens, independente de suas idades.
Na última semana, em um jornal da cidade, deparei com uma propaganda sobre Dança Senior. Mas o que seria isso? A denominação Senior traduz critérios, experiência, qualificação e sabedoria. Assim, o referido curso de danças deveria ser direcionado para pessoas com um alto desenvolvimento nas danças de salão. Igualmente, seus instrutores deveriam ser altamente qualificados e com experiência renomada no ramo. Mas não é nada disso! Dança Senior, por aqui, é um simples curso de danças destinado à pessoas com certa idade. Quais seriam então os ensinamentos repassados nesse tipo de dança? Dançar um pouco mais devagar? Não forçar a aula? Parece que a velhice está mesmo na cabeça dos próprios promotores? Analisando mais profundamente, talvez seja apenas uma estratégia de marketing para que o curso seja financeiramente um sucesso? Nas Danças de Salão, os passos ensinados são os mesmos de 10 anos atrás. Inexiste Dança Senior! Isso é um rótulo desnecessário... Somos considerados velhos aos 40 anos. Aos 60, somos sêniores! Após os 70, anciãos! Isso é pura balela... Nas gafieiras do Rio de Janeiro, os melhores dançarinos tem mais de 50 anos e, em momento algum dos bailes se dança Dança Senior. Apenas dançam, com muito vigor e leveza. Há muita propaganda falsa envolvendo a velhice e as danças. A mestra Maria Antonieta, mãe da moderna dança de salão brasileira, dançava um samba de gafieira com a leveza de uma menina de 18. Isso aos 82 anos. O par era seu aluno, Carlinhos de Jesus, já com mais de 50. Seu fiel parceiro por mais de 40 anos, Mestre Oswaldo, tem hoje 75 e ainda freqüenta todas as semanas a Estudantina. Dança como um menino de 20. Aqui mesmo em Salto, existem vários casais com mais de 60 que dão show nos salões da cidade. Dançam sem medo e sem preconceito. Esses sim podem ser considerados seniores.
Assim, queridos leitores, é chegada a hora de deixar de enganar e realmente ensinar. Se o curso é de Danças de Salão que assim o seja! A qualidade de um ensino está na honestidade, seriedade e principalmente na qualificação de seus professores e instrutores. Uma boa escola deve ter metodologia, planejamento de ensino e história. Ninguém se faz da noite para o dia! Isso vale de todos os segmentos de escolas. Vale também para aqueles que promovem cursos mesmo não sendo escolas. Para ser Sênior é necessário, no mínimo, muita experiência. E isso só se adquire com perseverança. (CJB)
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